Esquema analítico de Weber
Weber definiu-se como sociólogo numa etapa já bastante
avançada da sua carreira. Numa carta ao economista Robert Liefmann:
“se
agora sou sociólogo então é essencialmente para pôr um fim nesse negócio de
trabalhar com conceitos coletivos. Em outras palavras: a Sociologia somente
pode ser implementada tomando-se como ponto de partida a ação do indivíduo ou
de um número maior ou menor de indivíduos, portanto de modo estritamente
individualista quanto ao método”.
É claro que a Sociologia trata de
fenômenos coletivos, cuja existência não ocorreria a Weber negar. O que ele
sustenta é que o ponto de partida da análise sociológica só pode ser dado pela
ação de indivíduos e que ela é “individualista” quanto ao método.
Na ausência dos atalhos
oferecidos pela referência direta a entidades coletivas, ele necessita ir
construindo passo a passo um esquema coerente e - internamente consistente que
permita ao sociólogo operar com segurança com conceitos como, por exemplo, o de
Estado, sem atribuir a essa entidade qualquer realidade substantiva fora das
ações concretas dos indivíduos pertinentes.
É isso que
ele busca fazer, sobretudo no seu livro em Economia e sociedade.
Passemos
então a uma reconstrução sumária dos conceitos fundamentais envolvidos nessa
obra e da articulação entre eles. Cumpre, portanto, examinar o esquema
analítico weberiano, o qual possui a seguinte seqüência conceitual: ação social, sentido, compreensão, agente
individual, tipo ideal, relação social, legitimação e dominação.
I. Sociologia:
Deve-se entender por sociologia: “uma
ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim
explicá-la causalmente em seu curso e em seus efeitos” ou ainda, a sociologia
compreensiva procura captar (objetivamente) as ações humanas e seus sentidos.
A sociologia é uma ciência voltada para a compreensão e para a
interpretação das ações sociais. A Sociologia é basicamente o estudo da ação
social orientada para a conduta dos outros.
II. Ação Social:
É uma modalidade específica da ação, ou seja, é uma conduta
humana (que pode consistir num ato externo ou interno; numa condição ou numa
permissão) em que o próprio agente associa um sentido a sua ação, desde que a
ação seja orientada conforme a conduta dos outros e em consonância com eles. A
“ação social”, portanto, é uma ação em que o sentido indicado por seu sujeito,
refere-se à conduta de outros, orientando-se por esta em seu desenvolvimento.
É toda conduta humana em que o próprio
agente associa um sentido a sua ação, desde que a ação seja orientada conforme
a conduta dos outros e em consonância com eles.
Para que isso se torne inteligível é preciso ver o que Weber entende por
“sentido”.
III. Sentido:
Por sentido deve-se entender o sentido subjetivamente visado,
isto é, aquele que se manifesta em ações concretas e que envolve um motivo, o
qual é sustentado pelo agente como fundamento da sua ação.
Cuidado!!! Não se trata, de modo algum, de um sentido fixo,
objetivamente correto.
IV. Motivo:
Observe, o conceito
de “motivo” permite estabelecer uma ponte entre sentido e compreensão. Talvez
fique mais claro...
Existem variados sentidos
subjetivamente visados, dado as diferentes bases culturais em que vivem os
diversos indivíduos, porém, o mais relevante para se atingir a compreensão da
realidade é perceber que há um motivo orientando a ação de todo e qualquer
indivíduo. Saber recuperar o significado desse motivo permite-nos compreender
essa ação. A reconstrução do motivo é fundamental porque, da perspectiva do
agente, o motivo figura como causa da ação.
A preocupação não é com a origem da ação
(sentido subjetivamente visado) e sim com o motivo (fim objetivamente visado
pelo agente). O motivo é fundamento de toda ação social.
[Método Compreensivo]
V. Compreensão:
Em que medida a compreensão é um processo seguro, capaz de
interpretar a realidade?
Com a utilização desse método Weber assume uma postura
crítica frente à sociologia positivista. Ao utilizar o método compreensivo Weber
não pretende reproduzir ou classificar uma ordem objetiva já dada, mas, atribuir
uma interpretação aos aspectos selecionados da realidade que se apresentam à
experiência como múltiplos e infinitos e, portanto, impossíveis de serem
apreendidos fora de uma análise histórica como pretendia Durkheim.
A compreensão do comportamento social atinge
tanto intelectualmente quanto por empatia: Intelectualmente, se o
comportamento for racional (por valor ou por fim), por meio do reconhecimento
da lógica dos meios e das relações; Por empatia, se o comportameno for
irracional (tradicional ou afetivo), por meio da projeção de si próprio na
situação e na experiência do contexto emocional.
VI. Agente
Individual:
É a única entidade capaz de conferir sentido às ações
sociais. Por outro lado, os agentes e os sentidos não podem ser incorporados á
análise científica tal como se apresentam uma vez que se mostram como
diversificados processos que se mesclam de todas as maneiras.
Então, por que determinadas práticas se
mantêm se os agentes são múltiplos?
Então, como os sentidos subjetivamente visados de cada agente
são incorporados à analise cientifica?
VII. Tipo Ideal:
Sem um rigor
conceitual não há ciência digna desse nome.
Foi para solucionar esse problema
que Weber construiu um elemento de orientação na realidade que permite a formulação
de hipóteses, o tipo ideal. Este serviria como guia para o pesquisador, nesse
sentido, o tipo ideal só existe como abstração e não é, e nem pretende ser um
reflexo ou uma repetição da realidade.
VIII. Relação Social:
Pelo fato de existir uma regularidade de condutas de caráter
social precisamos entender o desdobramento do conceito de ação social, o de
relação social, o qual deve ser visto como uma conduta plural (de várias
pessoas) reciprocamente orientada. Lembre-se, não há garantia prévia de
ocorrência de qualquer relação social.
Quando o sentido de uma ação é compartilhado
por outro ou outros (tanto pode ser por apenas dois, em presença direta; quanto
por um grande número e sem contato entre si no momento da ação) temos então,
uma Relação Social.
Exemplo:
A amizade é uma
relação social, porque envolve um conteúdo de sentido capaz de orientar regularmente
a ação de cada indivíduo em relação a múltiplos outros possíveis e que portanto
se manifesta sempre que as ações correspondentes são realizadas (por isso mesmo
podemos designar esse conteúdo de sentido pelo termo genérico “amizade”). Claro
que a amizade, como qualquer relação social, não existe senão quando se traduz
em condutas efetivas. E, como não há garantia prévia de que isso se dê, a
ocorrência de qualquer relação social só pode ser pensada em termos de
probabilidade, que será maior ou menor conforme o grau de aceitação do conteúdo
do sentido da ação pelos seus participantes.
IX. Legitimação:
Este é um tipo especial de relação social capaz de permitir
o exercício de certos atos, uma vez preenchidos os requisitos legais. O sentido
de legitimidade é incorporado pelos agentes como uma regra orientadora de suas
condutas na medida em que é aceito como legítimo.
X. Dominação:
Toda relação
autêntica de dominação sobre uma pluralidade de homens requer um certo mínimo
de vontade de obedecer, isto é, uma relação provável de obediência por parte
dos dominados. Para ter sucesso nesta operação é essencial que os dominantes
possuam legitimidade frente aos dominados, ou seja, todos dominantes procuram
despertar e cultivar a crença em sua legitimidade.
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